domingo, 19 de setembro de 2010

NÃO DIZ...

"Se você me convidar para um simples café, farei questão em ir. Estou feliz! E se você não achar vaga no estacionamento, não faz mal, tem seguro, o que importa é que estaremos juntos!"
Foi assim que ele me levou... Shopping cheio, nada de privacidade. "Tem algo que você queria me dizer?" Você sorri da minha pergunta, indiscreta aliás, e nada diz! Um sorvete, daqueles que você sabe tão bem que gosto. E que você só toma para me acompanhar, pois diz que tem um gosto amargo. Enquanto me delicio, você me olha, observa, eu diria. "Você está tão enigmático!" Quando saímos daquela confusão de gente gritando, andando, correndo, rindo, achei que finalmente você me diria. Abriu-me a porta, fez uma mesura e sorriu. Deu a volta, entrou no carro, colocou o cinto de segurança e percebi nervosismo nos dedos ao errar o encaixe do teu. Ouvi teu respirar de alívio, quando com o carro já em movimento, ouvimos o "click" encaixado.
Confesso, senti-me estranha, enquanto o carro silenciosamente trafegava pelas ruas agitadas de cidade grande em pleno feriado. Não sei se pelo clima, café, sorvete, mas o fato é que estava desapontada por não aproveitares o momento para me fazer algum carinho, como sempre o fazia, quando me ajudava a colocar o cinto. Claro que era nossa desculpa, mas senti falta disso nesse instante. Talvez pelo fato de que eu me sentisse mais segura, não por causa do equipamento de segurança, mas em sentir teus braços em volta de mim. Senti-me desprotegida, como há muito tempo não sentia.
Lembra daquele dia? Em que paramos o carro no estacionamento, quase vazio, e que ao retirar meu cinto, jogava a cadeira para trás e dizia: "e agora? o que poderá fazer?" Sentia-me tão segura dessa forma. E só tomei consciência agora, depois desse nosso sorvete gelado! O que dizer ainda das tuas tentativas de tentar advinhar meus gostos e levar-me ao cinema para assistir teus gostos por filmes estrangeiros, mesmo sabendo que tenho receios se não leio a sinopse antes e me certifico que há uma boa crítica em relação a eles. Aprendi a confiar no teu bom gosto, a partir disso.
Aos poucos foi se tornando comum os teus acertos nos meus gostos mais estrambóticos aos mais comuns. Deve ser por isso que as maiores surpresas da minha vida, foram trazidas por você. É como se você se especializasse em me fazer sentir feliz! Não pelo valor dos objetos que me presenteavas, mas pelo sentimento que emprestava a eles, pela criatividade em me apresentar a eles e principalmente pela forma inovadora de fazer as mesmas coisas de forma tão incomum.
Quando teu braço tocou o meu, na curva logo adiante, acordei de meu devaneio e pude perceber uma ruga de preocupação em tua testa. O que te vai ao coração? Tu consegues me ler tão bem! Mas para mim tu és um estanho ultimamente! Apesar dos gosto tão em comum que temos sabemos que ainda muitas coisas são inversamente proporcionais e que tem feito toda diferença na nossa reaproximação. É explícito em nós esta vontade que temos que fiquemos juntos, mas há algo que nos impede de nos juntarmos tão simples assim! Você tem poupado palavras que antes eram tão corriqueiras em teus lábios. Eu tenho tido dificuldades para organizar meu pensamento e medo em pronunciar algo que te magoe.
Tenho saudades, muitas saudades. E sei que foram os meus defeitos e minhas características adversas que levaram a ruir tudo o que de bom havia em nós. O que acho estranho ainda, é que mesmo assim, ficamos encantados um com o outro e que ainda tenhamos esperanças em reatar de alguma forma esse casal que um dia fomos ou sonhamos ser.
E o que me intriga ainda mais é essa teimosia minha em achar que nada será tão diferente assim... Mesmo que eu não saiba explicar o porquê, razão, motivo...
O carro pára... Eu só quero descer e ir para o meu quarto! E deixo claro isso para você no meu adeus! A última coisa que escutei da rua, foram os pneus se afastando vagarosamente e sem ouvir o que você tinha a me dizer...
(Alde)

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