sábado, 11 de outubro de 2014

UM CORDEL DA VERDADE

BIG BROTHER BRASIL: UM PROGRAMA IMBECIL.
Autor: Antonio Barreto, Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.


Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro

Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão

Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial

Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,

Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal

Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Da muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal.
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal.
FIM

terça-feira, 6 de maio de 2014

O HORROR DE UM MATADOURO


Uma crônica do que um compartilhamento sem reflexão pode fazer


O grito é de dor! Sua carne ia sendo transportada por mãos hábeis, que sabem muito bem os golpes que deverão ser dados para que seu intento seja executado. Os grunhidos aos poucos vão se tornando cada vez mais altos. O palco do matadouro está instaurado. São poucos minutos que aquele ser tem ainda de vida. As pessoas arrastam seu couro pelas ruas sem asfalto. Sua carne é dilacerada. É possível verificar a dor sentida na pele. A face é arrastada no antipó e é desfigurada. Os olhos parecem saltados na órbita. Vê-se claramente o medo que transfigura no sangue de suas órbitas. Os sons emitidos agora são de desespero e frenéticos. Alguém daquele grupo ensandecido dá chutes, um outro dá pauladas. Alguém não aguenta a cena e pede para parar, mas há um veredicto posto e nenhuma forma de racionalidade cabe nesse momento. Uma multidão segue a cena, como a um filme em tela grande. Crianças, jovens, mulheres, homens. Aquele pedaço de carne é pendurado, jogado em uma vala. Um ciclista resolve passar em cima da cabeça, já toda machucada. Palavras inflamadas, gestos irreconhecíveis são direcionados àquele corpo que praticamente jaz no meio da rua. Seus olhos ainda piscam, sua língua ainda se mexe, quase não há mais som e sua cabeça ainda se move. Alguns se afastam. O corpo parece ter espasmos, contrações involuntárias, agonizando.
Chamam o corpo de bombeiros...
Você pensou em um porco ou boi sendo abatido? Não! O corpo estirado na rua tem um nome, uma história. O nome dela é Fabiane Maria de Jesus. Sim! É um ser humano! Ela foi espancada por dezenas de moradores de um bairro de Guarujá-SP. Foi justiçada depois que um boato gerado em uma página do facebook dizendo que uma mulher sequestrava crianças para rituais de magia negra. A foto do retrato falado foi ligada a Fabiane, que ao sair de casa foi cercada por várias pessoas acéfalas e começaram a agredi-la violentamente. Depois de todas as barbáries gravadas em vídeo, a jovem mulher, de 33 anos (ironicamente a idade de Cristo e com a alcunha Fabiane de Jesus) foi levada com vida para a UTI do município, mas não resistiu aos ferimentos.
Ela era mãe de duas crianças. Esposa, amiga, filha. Talvez nunca tivesse passado pela sua cabeça uma forma tão bestial de deixar esse mundo. Ela sofria distúrbios psicológicos. Ela? Doentio é a atitude insana da população revoltada sem senso nenhum. Em nome da justiça pelas próprias mãos não filtraram as informações repassadas, compartilhadas, curtidas.
Imagino que alguém, sem responsabilidade nenhuma, postou uma informação no site onde o retrato falado estava veiculado, dizendo que uma mulher, da sua rua, era muito parecida com a foto em questão. Quando você recebe algum tipo de ‘post’ de um amigo, de um conhecido, a tendência geral é curtir. Em poucos minutos, as pessoas vizinhas de Fabiane, que estavam logadas e ‘alertas’ com uma possível sequestradora de crianças na região, curtem, compartilham, comentam e aos poucos o furor coletivo e sentimento de justiça é insurgido. Alguém sugere a vingança. Outro compartilha, outro curte, outro comenta. E aí a ‘brilhante’ ideia de partir para a agressão. A tragédia está feita! Indivíduos, um bando, resolvem abater e com eles muitos seguem impensadamente. Mataram uma inocente! Matar quem quer que seja é um crime! Mas matar um inocente, alguém que sequer sabia o que estava acontecendo e o porquê estava sendo acusada é lamentável, lastimável, inaceitável.
Ao ver as imagens na TV, os depoimentos na internet, as pessoas comentando, fiquei com vontade de chorar. Não acreditei nessa sociedade que faz justiça dessa forma. As imagens revelaram pessoas perversas, sem humanismo. Não consegui chamar de seres humanos, pois humano era somente a Fabiane naquele local que lutava para não perder sua vida. O único ser humano naquele momento, morreu!
Pensei na palavra animais, mas há muito já não uso esse termo pois a associação só prejudica essa classe. Bestas! Talvez!
O jornalista G. L. Godkin, em 1893,  escreveu sobre os linchamentos de negros nos EUA, que tinham plateias e ampla cobertura dos jornais: “O homem é o único animal capaz de tirar prazer da tortura e morte de membros de sua própria espécie. Arriscamo-nos a afirmar que parte das pessoas num linchamento está lá como em uma briga de galo, para satisfação dos instintos mais baixos e degradantes da humanidade”.
E aí, envergonho-me de fazer parte dessa raça!

(Alde Maller – 06/05/2014)