Gostaria de estar errada, mas tenho que admitir que vez ou outra
me pego em diálogos com meus pensamentos. Sinto-me não me situar no tempo, no
espaço e por várias horas me sinto perdida, estranha, calada. Quando tiro a
roupa e me olho no espelho, sinto uns olhos que não são meus, me espreitando.
Olhos tristes também, assim como os meus... Nesses momentos, deito na cama e em
conchinha, acaricio meu corpo para lembrar das mãos, do toque, do sussurro, do
beijo... Faltam os lábios, aquela sensação de flutuar, de uma felicidade que
chega a doer, bem aqui dentro, onde jaz um vazio. Encontro-me assim, jogada ao
chão. É lá, no meu tapete que fico, olhando as estrelas do meu teto. Aquelas
que tanto já me observaram em estados de êxtase e de agonia. Elas ficam ali,
brilhando na escuridão, me olhando. Há uma certa pena no olhar que me dirigem.
Desse modo, encolhidinha, sinto perto o afago tão gostoso,
o roçar dos lábios na pele, na nuca, na testa; o abraço apertado e
aconchegante; os sons dos beijos.
Ouço bem de leve a voz, as nossas conversas, a minha atenção em
ouvi-lo para gravar em minha memória tuas palavras e depois que te fosses, ficar
relembrando-as, cada partícula de palavra que a mim dirigias. E trago aquele
olhar, que me conquistou, o sorriso que me enlouquecia.
Sinto tanta falta das nossas loucuras, dos e-mails hilários que
trocávamos, das horas em que ficávamos apreciando a companhia um do outro. Dos
momentos que percebíamos que a única coisa que no mundo importava era estarmos
juntos. Das nossas despedidas, tão sofridas. Do ficar mais uns minutinhos. Da
voz rouca de sono só pra me dizer boa noite ou para me desejar um bom dia! Dos
ciúmes velados, dos ciúmes escancarados, das palavras de carinho. Falta de
você!
Aqui permanece a falta de risos, dos presentes esdrúxulos, mas
tinham um porquê. A nossa trilha sonora, que nos embalava a todo momento, no
teu carro, na tua casa, na minha casa...
Falta-me a calma de esperar até quando possamos nos encontrar e
finalmente sermos felizes! Não canto mais... falta-me o calor, excede o
calar...
Quando fomos apresentados pelo destino não sabia que seria
assim, essa inconstância, mas mesmo assim valeu a pena.
Ah! e sinto saudade... sinto falta da brisa, do riso fácil, da
canção sentimental que nos traduzia... Falta ainda mais do abraço que não
demos, nos beijos que ficaram na esfera dos sonhos, de tudo que prometemos, do
amor...
Tenho medo do passado.
E estou cansada de sentir algo que não posso nem nominar, por
medo, fracasso, orgulho...
E não há aconchego, abraços, laços, afagos, palavras, olhares
que consigam preencher essa falta, esse vazio, essa sensação de estar só, ou de
estar longe, sem saber se voltará...
Fico vasculhando nossas lembranças na esperança de encontrar uma
fenda que me leve junto a você. Não importa se passado ou futuro, mas que me
tire dessa condição presente de estar tão sozinha, tão sem você!
E é exatamente assim que me sinto... a única certeza é essa dor
latejante que me diz que ainda amanhã, a essas horas não vou me encontrar
contigo, nem ouvir tua voz, nem sentir teu perfume, e não terei teu toque...
Talvez um dia, mas eu queria que fosse amanhã...
Esta saudade me consome lentamente, me adoece, e é a única que
não me esquece...
Queria que estivesses aqui para matarmos o tempo, para nos
encontramos nos intervalos das nossas correrias e afazeres. Queria te contar
minhas piadas infames e ouvir e rir das tuas sem graça. Queria sentir teu
hálito bem perto e ficar admirando teu sorriso não pela fotografia. Queria ter
teus beijos em cada milímetro do meu corpo, mas se simplesmente eu estivesse em
teus braços, já estaria feliz! Enxergar-me nos teus olhos ainda é o meu desejo...
Lembra desse meu pedido? "olhar-me em teus olhos..."
E até um toque de celular me dizendo da saudade que sentes, ou
do simples "linda" tão peculiar. Queria a tua mensagem de madrugada
me dizendo que não conseguias dormir e que queria ter-me ao seu lado. Queria de
novo teus conselhos, tuas palavras de ironia, tuas indagações do modo como vejo
a vida, tua incompreensão diante das minhas convicções. Mas queria muito mais
teus ombros largos para eu me recostar.
Queria que essas lágrimas que rolam invariavelmente fossem de
alegria por poder contemplá-lo. Queria minhas mãos nas suas entrelaçadas e
sorrir furtivamente para que não percebesses o bem que me fazes. E até queria
ouvir de novo as palavras que só você sabe que me irritavam, dizendo que me
achava tão linda brava daquele jeito...
Queria que ouvisses minhas teorias doidas quanto ao futuro e das
tuas perguntas se cabias neles. Sempre dava um jeito de incluí-lo nos meus mais
loucos projetos. Da forma como me fazia repensar as decisões. Queria que estar
perto pra nós simplesmente bastasse, nem que uma palavra fosse dita, apenas que
roçássemos nossos braços e encostássemos nossas cabeças... Só isso bastaria...
No entanto, hoje estou calada... e esse silêncio me incomoda...
essa distância que parece intransponível machuca e a ausência me entristece
tanto.
Como eu sinto falta...