sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 A despedida


Ele olhou para ela daquele jeito que só ela sabia decifrar. Esperou mais um tempo para ver qual a sua reação, se o início da palavra esperada poderia ser antevista em seus lábios. Nenhum indício, porém, havia naquele fitar. A imagem dele era tão nítida naqueles olhos límpidos, embora - ele ponderou bem depois - estivessem opacos. O brilho intenso havia se extinguido, ele só não sabia dizer exatamente em que momento isso acontecera. Aos poucos percebeu a própria imagem se esvair, borrar, anuviar pelas lágrimas que uma a uma caíam sem que nenhum som fosse emitido. A cabeça lentamente balançou de um lado para o outro. Ali estava a resposta. A voz sibilante e quase inaudível dela ensurdecia seu medo. Ali jazia apenas seu corpo frágil. Parado. Estagnado. Trêmulo. Por um ínfimo de segundo ele pensou ouvir o som que almejara desde o instante que a conhecera: Sim! Ele dissera esta palavra muito antes de alguém ter perguntado. Ela não indagou. Em nenhum momento. Ali ele percebia claramente isso. Ela não perguntara. Ele, ainda assim, respondera efusivamente. Apaixonadamente. Conscientemente. Não era nada frívolo, inconsequente. Tudo a volta dela lhe fascinava. Tudo o que ela dizia, fazia, para ele tornava-se melodia. No entanto, ali ela emudecia. Um soluço. Um outro. Mais um. E então: Não!

(Alde Maller/2022)