terça-feira, 29 de dezembro de 2015

PENSAVA QUE ERA ASSIM...

DITADOS QUE NÃO SÃO BEM DO JEITO COMO SE SE FALA POR AÍ...(1)


Você, certamente, já ouviu ou proferiu ditados populares na vida! Isso faz parte da história de um povo! Os mais antigos tinham mais costume de pronunciar em determinadas situações ditados que pudessem de alguma maneira acalmar a situação. É a chamada sabedoria popular! No entanto, nessa oralidade através dos tempos, ocorreram algumas mudanças no seu sentido original. Fato esse que é comum nas narrativas orais. Sempre algo é acrescentado ou retirado.

Fiz algumas pesquisas sobre alguns desses ditados que em sala de aula, alguns alunos trazem de suas casas, vindos de seus avós principalmente, e questionam sobre o significado daquela expressão, em que momento seria utilizado. E alguns totalmente deturpado do sentido original. Provavelmente você também aprendeu-os assim:

1)
ERRADO: QUEM TEM BOCA VAI A ROMA! (e eu sempre imaginei: eu tenho e nunca fui!) - que significa que aquele que se esforça, sempre alcança; ou que se você perguntar poderá chegar a qualquer lugar...) Tem seu méritos!

CERTO: QUEM TEM BOCA VAIA ROMA! (isso mesmo! o verbo é 'vaiar'  - buuuuuuuu - significando que quem está descontente com a situação do império, das ações do governo, não fica calado, manifesta-se!)

2)
ERRADO: QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO! (e como faço para o gato me obedecer? andar comigo?) significando que se você não tem os meios adequados, não desista, improvise! Tem sua lógica!

CERTO: QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COMO GATO! (olha uma letrinha só, fazendo toda a diferença) O gato não gosta de sair acompanhado. Ele é solitário em suas buscas. Se não tem com quem ir, vá você, esgueirando-se, quietinho, até cumprir sua meta! O importante é não desistir!

3)
ERRADO: COR DE BURRO QUANDO FOGE! (que cor exatamente é essa?)

CERTO: CORRO DE BURRO QUANDO FOGE! Significando literalmente o que se diz! É melhor correr que levar coices!

4)
ERRADO: ENFIOU O PÉ NA JACA! (o que isso tem a ver?)

CERTO: ENFIOU O PÉ NO JACÁ! (AH o acento gráfico) Nos tempos antigos, os bares tinham nos fundo cestos, chamados JACÁS, onde eram jogados lixos, frutas, verduras. Enfiar o pé nos jacás, era uma forma de dizer que bebeu tanto que nem  via mais o que estava pela frente.

5)
ERRADO:  Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão... (Você já viu alguma batatinha esparramada? - sempre pensei nisso - Não tem sentido) 

CERTO: Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão... (depois disso entendi o que são tubérculos...)





DIALOGANDO COM DRUMMOND

Viver não dói! (Carlos Drummond de Andrade)





O CARLOS, carinhosamente alcunhado por mim(petulantemente) de Cacá conversou comigo dias desses. E foi interessante. Chorei na frente daquele poeta que se sentou junto ao mar e lá, naquele lugar paradisíaco, eternizou-se. Ele disse:

CD: Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

EU: Mas é bem por isso Cacá que sofro. Por que aquilo que sonhei não se tornou realidade visto que era tão bom? E parecia um grande amor...

CD: Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. 

EU: Mas eu queria a tal da eternidadeou que durasse um tanto mais... Concordo com ter conhecido alguém especial, mas e o que fazer com essa dor, esse sofrer?

CD: Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida. 

EU: ...os beijos cancelados... assim fica ainda mais sofrível... Existem passos para aliviar essa dor?

CD: Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais...

Olhei para o ele, ali, tão convicto, com as mãos segurando um livro - acho que o seu mesmo - pernas cruzadas, sentado no banco por fundo o mar. Drummond dava as costas ao mar. Só um poeta mesmo para a loucura desse ato. Depois dessas lições resolvi dar um mergulho. Pode até ser que viver não dói, mas mergulhar nessas águas é o que mais quero no momento! 
(Alde Maller/2006)

sábado, 4 de julho de 2015

INVENCÍVEL: Uma história de persistência e algo mais...

RESENHA

Louis Zamperini foi um esportista e veterano de guerra que sobrevive a dois anos de prisão no Japão, em 1940. A história deste americano naturalizado - ele é italiano - tinha que virar um filme. Angelina Jolie, a embaixadora da ONU, também pensou assim. E assim o fez. 

O filme com título original Unbroken mostra além de fatos históricos da guerra entre os EUA e Japão, uma história verídica de um medalhista olímpico que ao ser convocado para a guerra, tem o seu avião abatido e passa 47 dias no mar, à espera de um salvamento com mais 2 companheiros que junto com ele sobreviveram à queda. Depois de muita tensão - luta por sobrevivência entre tubarões, falta de água e comida, acomodados em dois botes salva-vidas pequenos - o resgate finalmente chega, mas pelas mãos do inimigo: os japoneses.

A partir disso então, Zamperini e Phil (o outro amigo não conseguiu aguentar e morreu em alto mar) são levados como prisioneiros de guerra  e torturados brutalmente. A maior parte do filme passa-se neste cenário de medo, tortura, violência e que o protagonista vence a todas as barreiras e adversidades pensando sempre na família e nas palavras de seu irmão que sempre dizia a ele: "Você é capaz! Você pode tudo!"

É evidente que a produção coloca um personagem bem fiel ao título pois Zamperini não se deixa abater com facilidade em nenhuma das situações. É ele quem sempre anima os companheiros e mostra a eles que devem persistir e nunca desistir. Fica a dúvida se realmente o verdadeiro Zamperini, que morreu aos 97 anos no ano de 2014, realmente era essa rocha maciça, inviolável, que passa por tanto sofrimento sem se deixar abater. Se foi assim mesmo, é um caso mais que impressionante. Mas, só por saber que Zamperini passou por tantos horrores da guerra e sobrevive a tudo, já é um mérito! Certamente muitos outros sobreviventes teriam relatos emocionantes e fatídicos dos quais também seriam dignos de honra.

Talvez, pensando neste sentido, alguns diretores de histórias tão fantásticas como esta deveriam refletir que a história real por si só já convence sobre a invencibilidade do herói. Não é preciso incrementar com cenas quase surreais. A própria mostra da realidade já nos choca, como expectadores. Não é preciso fazer do protagonista um herói inalcançável e inatingível. Da mesma forma o vilão já tem esta alcunha pelas atrocidades cometidas. Mas os atores Jack O'Connel e Miyavi desempenham o papel maravilhosamente bem.  

Zamperini é um herói, sem dúvidas! O filme é excelente para nos fazer conhecê-lo e aos americanos para relembrar que muitas vidas passaram pelos horrores da guerra como homens invencíveis. Alguns sobreviveram. Muitos não! 
(Alde Maller/2015)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O PROJETO ROSIE

(AUTOR: GRAEME SIMSION)

Não foi o melhor livro que já li na minha vida, mas sem dúvidas dos últimos lidos foi um dos mais divertidos! Divertido no sentido de me emocionar com a narrativa do personagem principal a ponto de discutir com ele as decisões que ele tomava sobre sua vida. (é, eu sou assim... discuto com o personagem o tempo todo). Don Tilmann, australiano, 39 anos, professor universitário, não está nem um pouco satisfeito com sua vida amorosa. Aliás, esta é a única área que ele não tem controle. Todas as outras áreas de sua vida são extremamente, milimetricamente programadas e executadas com perfeição. Nada pode sair do seu controle. E, se, isso acontecer, Don reserva alguns minutos para pesquisar cientificamente sobre esse fenômeno. A genética, objeto e formação de estudo de Don, explica tudo. Ou quase. O grande problema surge quando ele percebe que sua incapacidade em arrumar uma companheira pode ser resolvido eficazmente através de um Projeto que ele nomeia de Projeto Esposa. Ele cria então um questionário extenso com perguntas que segundo ele filtrarão aquela que mais se adequa ao seu perfil e gosto. Ele coloca critérios que definirão uma candidata perfeita ao seu estilo: não pode ser fumante; não pode se atrasar por mais de cinco minutos a um encontro ou compromisso; ou ainda, não pode usar muita maquiagem. Assim, ele começa sua busca por uma mulher ideal. 
Claro, que toda essa procura, mexe um pouco com o seu horário já estabelecido há tanto tempo, mas ele consegue encaixar sem maiores problemas. Don, não tem muita facilidade em lidar com os outros. Ele se declara com problemas sociais, acha os outros estranhos e não consegue estabelecer um vínculo de amizade, a não ser pelo casal Gene e Claudia, amigos preciosos, aos quais ele mostra o questionário eliminatório. O casal dá suas observações, convencem-no de que algumas perguntas são muitas invasivas e desnecessárias e Don então começa a praticar a sua pesquisa e projeto em andamento.
O objetivo é achar uma mulher que seja totalmente compatível ao seu estilo de vida e propósitos. Com toda essa pesquisa, planejamento e organização parecia ser algo extremamente fácil. Mas a tarefa aos poucos mostra-se muito difícil! E quando tudo parece comprovar a incompatibilidade de gênios, surge Rosie Jarman. Uma moça nada compatível e não adequada ao Projeto Esposa. Rosie fuma, não obedece a regras e horários e ainda só come peixe se for de origem sustentável. E além disso, ela tem alguns problemas para resolver, como achar quem é seu verdadeiro pai. Don, por alguns momentos, abandona o Projeto Esposa, que segundo ele já não está indo muito bem mesmo, para ajudar Rosie com o Projeto Pai. A partir daí, os dois se envolvem na procura nada fácil, mas envolvente. Tão envolvente que Don nem percebe que Rosie aos poucos faz parte de sua vida sem nem mesmo ele se dar conta disso. E ao mesmo tempo Rosie conhece um homem diferente de todos aqueles que já magoaram-na um dia.

Como eu disse não foi o melhor livro do gênero, mas me surpreendeu. Nunca tinha lido nada deste autor. Mas o personagem me cativou o tempo todo. Apesar de que ele se mostrava frio, sistemático e irritantemente organizado, as falas, as tiradas dele me impressionavam o tempo todo. A inteligência e argumentos dele em relação às pessoas consideradas "normais" me deixou satisfeita e ao mesmo tempo pensativa sobre a forma como enxergamos o diferente e como somos seletivos e por que não maldosos em nossas escolhas. Don conseguiu me provar que conseguiu muito mais mudanças, as quais ele detestava, não tolerava do que eu tenho feito em  minha vida considerada padrão. Ele enxerga com rapidez a necessidade de se ajustar, de se adaptar e ter um perspectiva diferente de tudo aquilo que ele programara para si. Rosie, certamente é a grande responsável por esta mudança, mas sem dúvidas, para mim, o favorito é Don. Creio que ele muda muito mais a personagem (Rosie) do que ela a ele. É perceptível que o autor sugere que um precisa do outro para ser mudado. Um precisa do outro para ser completo. 

Amei também a forma como ele dá uma lição de fidelidade a quem se ama para o amigo Gene. Gene é o cara! Aquele que consegue com muita facilidade enredar todas as mulheres que o cercam, mesmo sendo casado com uma mulher maravilhosa, que é Claudia, amiga que ajuda muito Don. O desfecho para Gene e Claudia foi divertido demais ler. 

Não se encontram mais homens como Don com tanta facilidade. Por isso ler este livro, narrado pelo próprio Don é sem dúvidas cativante pois o personagem consegue aos poucos se despir com uma sutileza e leveza que também não se encontram com tanta facilidade na vida real. O autor, Graeme, consegue narrar de uma forma tão divertida e leve que já nas primeiras páginas eu almejei assistir a um filme dessa história. Terminar o ano com uma leitura assim, foi um presente ótimo!    
(Alde Maller/2014)

FICHA TÉCNICA
ISBN: 9788501402219
Tradutor: Ana Carolina Mesquita
Capa: Carolina Vaz
Ano: 2013
Páginas: 320
Editora: Record