terça-feira, 29 de dezembro de 2015

DIALOGANDO COM DRUMMOND

Viver não dói! (Carlos Drummond de Andrade)





O CARLOS, carinhosamente alcunhado por mim(petulantemente) de Cacá conversou comigo dias desses. E foi interessante. Chorei na frente daquele poeta que se sentou junto ao mar e lá, naquele lugar paradisíaco, eternizou-se. Ele disse:

CD: Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

EU: Mas é bem por isso Cacá que sofro. Por que aquilo que sonhei não se tornou realidade visto que era tão bom? E parecia um grande amor...

CD: Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. 

EU: Mas eu queria a tal da eternidadeou que durasse um tanto mais... Concordo com ter conhecido alguém especial, mas e o que fazer com essa dor, esse sofrer?

CD: Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida. 

EU: ...os beijos cancelados... assim fica ainda mais sofrível... Existem passos para aliviar essa dor?

CD: Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais...

Olhei para o ele, ali, tão convicto, com as mãos segurando um livro - acho que o seu mesmo - pernas cruzadas, sentado no banco por fundo o mar. Drummond dava as costas ao mar. Só um poeta mesmo para a loucura desse ato. Depois dessas lições resolvi dar um mergulho. Pode até ser que viver não dói, mas mergulhar nessas águas é o que mais quero no momento! 
(Alde Maller/2006)

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