terça-feira, 11 de junho de 2013

QUE O AME

- Se você tivesse demorado um pouco mais o olhar...
Ele dissera isso com tanta certeza que todas as dúvidas que ela tinha acabaram de uma vez por todas. Ela já havia diagnosticado seus erros em relação a ele. Imaginara que se tivesse percebido antes muita coisa, que agora se dispunham ali a sua frente, talvez muita dor seria evitada. Talvez! Por que esta mania de duvidar de tudo? Ele estava ali olhando o por do sol, mas era como se não olhasse... Ela sempre tivera a sensação de que sempre ela precisara mais dele do que o contrário. E ali ele parecia tão indefeso!? 
Ela se lembrou de quantas vezes fora até mesmo grossa, insensível como se sempre estivesse em posição de guarda. Ele apenas queria aproximação, mais nada. Ela tinha medo de que ele pudesse finalmente lê-la e interpretar essas entrelinhas que lhe eram tão singulares. Ali, naquele momento em que o sol mantinha a sombra dos dois por um longo período, ela via a insatisfação estampada no rosto dele, de tudo aquilo que ela não deixou vingar, aprofundar, enraizar. Aquele namoro tão agitado e do jeito que ela mesmo ditava, de nada tinha de suave, especial. As cores que ela usava para pintar a aquarela do encontro deles eram cores de segunda e foram apagando-se assim que tomaram forma. 
Na verdade, muitas vezes só o que ele precisava era de um porto seguro, um lugar para estar, quando todos os outros estivessem ruins, e ela não percebera isso e acabava reagindo da pior maneira... afastando-o. Ela se ocupava tanto com as lembranças do passado que não conseguiu decifrar os pedidos de ajuda que ele lançara sutilmente. Mesmo que ela dissesse que a culpa havia sido dele, ali, diante do sol, tudo ficava claro. 
Ele jamais pedira a ela uma certeza dos sentimentos nutridos, mesmo porque ele já sabia de antemão a resposta, que ela mesma tentava disfarçar, esconder. 
Ele lança a ela um olhar tão gentil que desmonta qualquer defesa que ela havia por horas ensaiado diante do espelho que tantas vezes presenciou seus ataques de melancolia. Ele estava ali... e aquele olhar penetrava tão fundo que ela não conseguiu sustentar o tempo suficiente. Ele pega o queixo dela e devagar e com doçura característica, diz:
"- Sou apenas um homem, diante de uma mulher, pedindo a ela que o ame..."
E foi assim que ele na penumbra, vagarosamente, começou a ir embora!
(Alde Maller - jun/2009)


"Se por algum momento você achar que vale a pena tentar recomeçar de uma maneira nova, com mais clareza, eu estou disposta a ser o que eu não fui..."

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