segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CRÔNICA


KISS – O ÚLTIMO BEIJO

O primeiro beijo a gente nunca esquece! Pode ser bonito, feio, demorado, rapidinho, roubado, tímido, esperado, sonhado. Em geral, e depende do tempo em que isso aconteceu, sorrimos do nosso comportamento nesse momento tão especial e esperado.
O último beijo não tem a mesma lembrança. Os principais jornais de todo o mundo noticiaram um triste último beijo. Na madrugada de sábado, para muitos jovens de Santa Maria-RS o beijo foi o último. Talvez alguns presentes ainda nem tivessem a experiência do primeiro. Mas foi o último.  Também difícil de esquecer!
Quantos sonhos amontoados em um só lugar? Alguns na expectativa da conclusão da faculdade. Outros comemorando a entrada nela. Alguns querendo diversão com amigos, namorados, parentes. Outros acompanhar o trabalho de sua banda favorita. Alguns comemorando aniversários. Outros apenas acharam algo interessante para se fazer em um sábado à noite.
O ambiente era de festa! Se você estivesse lá pensaria nas condições de segurança? Quando somos impelidos a ir a uma festa, implicitamente sabemos que voltaremos! Muitos sábados na boate Kiss, como em várias boates pelo país, deram certo. Ninguém imaginaria que algo tão ruim pudesse acontecer. Talvez alguém tenha se desentendido no interior da casa de shows, mas rapidamente conseguiu contornar a situação, pois o mais importante era aproveitar o momento de diversão.
Mas uma confusão não conseguiram contornar. Em alguns segundos apenas, a tragédia ganha uma proporção inimaginável. Tumulto, gritos, correria, fumaça, escuridão. Cada um tentando se salvar, procurando uma saída. Mas não havia saídas suficientes. As saídas imaginadas acabaram sendo a última porta a cruzar. Aquilo não fazia parte da festa!
Minutos tornaram-se horas intermináveis. Aqueles que conseguiram sair do horror não acreditavam no que estava acontecendo. Alguns voltavam para procurar seus parceiros que se perderam na confusão. Ficaram lá! E não voltariam mais...
Uma grande comoção! Os números de mortos foram aumentando. Os caminhões chegavam. E corpos iam sendo amontoados para serem removidos daquele caos. Mas o caos se estabelecia por toda a cidade. Parentes foram acordados na madrugada. Quando o telefone toca de madrugada você já imagina algo ruim. E as notícias foram chegando.
Apesar de tantos esforços, muita coisa não foi suficiente. As picaretas para abrir as paredes não foram suficientes. Os tubos de oxigênio e máscaras não foram suficientes. Os leitos na cidade não foram suficientes. Os carros fúnebres disponíveis não foram suficientes. As pás, que antes eram utilizadas para abrir os túmulos no cemitério da cidade, não foram suficientes. Maquinários pesados foram solicitados para atender a demanda. Nem os cemitérios foram suficientes. Quem procurou coroas de flores para fazer a última homenagem, também não achou. Até as flores foram insuficientes.
Este último beijo ninguém quis. O último beijo agora é dado pela mãe, pai, namorados, parentes e amigos que estavam do lado de fora. E isso é inesquecível!
(ALDENIR MALLER)
28/01/2013