quarta-feira, 15 de setembro de 2010

TENTANDO

Eles já haviam passado por aquilo... já era tarde da noite, a música silenciosa tocava no interior do veículo, na rua escura, deserta... Algumas luzes cintilavam ao longe, acendiam, apagavam... Aquele silêncio entre os dois já estava meio insuportável. Ela pigarreou, encolheu as mãos. Ele olhava pelo retrovisor, como se estivesse esperando mais alguém chegar.
Ela sentia-se errada... como se a qualquer momento fosse descoberta. Ela tremia internamente, mordia os lábios já sem batom algum. Por que ele insistia naquela pergunta? Parecia-lhe inevitável tocar nesse assunto quando tudo parecia bem e a noite prometia ser tranquila para ambos. A companhia dele a agradava profundamente naqueles últimos dias, sem que ela tivesse que se esforçar para tal.
A leveza daquele encontro ia ficando para trás. Ela sabia que ao entrar no quarto ficaria olhando a janela ao longe, imaginando os ruídos, os hábitos... A moldura do passado mais uma vez fixaria morada em sua parede, enquanto ela provavelmente ficaria jogada na cama após uma enxurrada de sentimentos, desafetos, lembranças.
Ele a tinha? Não era isso o que importava? Ele não dizia sempre que a sua mente era brilhante, o que evidenciava ainda mais o porquê da sua admiração e dedicação? Ela não lhe pedira nada! Então por que ele insistia na pergunta que ela simplesmente evitava?
O mundo dela não era real. As costumeiras rugas apareciam no canto dos lábios, os olhos ficavam cada vez mais fundos, as olheiras mais roxas e a maquilagem já não era capaz de camuflar sua falta de sono e as lágrimas derramadas por sua própria resignação.
De repente ele sussurra algo e causa-lhe um profundo arrepio. Ela quer sentir o cheiro dele novamente mas algo a impede de prosseguir. Ela tira suas mãos que seguravam fortemente o assento e calmamente toca as mãos dele que permaneciam agora sobre o volante como se a qualquer momento fosse partir.
Por vezes, aquela mulher ao lado dele assumia uma atitude indiferente, como se estivesse a quilômetros dali, em algum lugar que ele não a pudesse ter, ouvir, desejar... No entanto agora lá estava ela tocando as mãos dele como se quisesse que ele entendesse tudo, sem palavra alguma. O silêncio era necessário.
Não se sabe quanto tempo os dois passaram assim, olhando o horizonte cintilante.
Ele toma coragem... diz que o conveniente era que eles descansassem e repetiu, como num atômato, que a noite fora fantástica. Que vê-la sorrir novamente com naturalidade fizeram-no acreditar que a mulher que ele amara, aquela tão sorridente, imprevisível, moleca, intrigante, fascinante, estava voltando aos poucos a ocupar aquele corpo.
Ela sorriu vagamente! E quis se desculpar, mas ele colocou o dedo nos lábios dela e disse que não era necessário, ele entendia e teria paciência, o quanto fosse preciso.
Ele se foi, depois de depositar um beijo rápido em seus lábios frios. Esperou-a entrar em casa e partiu.
Ela permaneceu deitada na cama com as mesmas roupas... tentou não olhar para a parede, mas a moldura lá estava, com o mesmo rosto de todas as outras noites...
Até quando?
(Alde)

10 comentários:

Anônimo disse...

Oi Alde...fico honrada em fazer parte do seus seguidores e tb de tê-la no meu cantinho.

Parabéns pelo texto!

Eu adorei!

quero tempo pra ler tudo que está no seu blog...

bjos!

Zil

Talitaa disse...

Oi Aldenir!Tudo bem??
venho aqui pra retribuir a visita no meu blog!
obrigada!
Amei também o seu cantinho, ele é muito especial!!
Ah, e quanto a frase eu a coloquei porque ela produz muito efeito em mim!E você acredita que eu ainda não li O Pequeno Príncipe? rsrs
estou te seguindo
beijos

Verônica Hiller. disse...

adorei o texto, adorei o blog! estou te seguindo também, claro :D

Ester disse...

Aldenir!

Obrigada pela visita, também gostei do seu blog e já a estou seguindo... Voltarei para ler-te..

Bjs!

Tavany Vieira :D disse...

Que bom que também gosta!

Também estou seguindo, vou aproveitar e ler alguns post's seus aqui!
Beijo. Volte sempre que quiser
:*

Guilherme Fraga disse...

Olá Alde !
Belo texto, gostei muito da sua narração.

Te seguindo
Beijo

PRECIOSA disse...

Amei conhecer seu blog
Muito, muito lindo
te sigo
abraços carinhoso

Preciosa Maria

PRECIOSA disse...

Amei conhecer seu blog
Muito, muito lindo
te sigo
abraços carinhoso

Preciosa Maria

Rafael Castellar das Neves disse...

Olá Aldenir!!

Muito bom este texto...vc narra de uma forma viva e a imagem fica clara..angustiante esta!

[]s

Valéria lima disse...

Tem horas que é melhor ficar em silêncio para poder olhar com mais atenção aquilo que esta a sua frente.

BeijooO*