domingo, 25 de maio de 2008

ESCREVER? EU? AI!!!


Já falei isso várias vezes! E agora ouço muito isso também! A nossa habilidade em escrever sempre é retomada ano após ano, série após série e mesmo assim quando esta tarefa é solicitada, perece-nos tão árdua, tão difícil, tão árida.
Tive uma professora que ensinou-me a "arte de gostar de ler e escrever". Não foi colocando no quadro negro os tópicos "como aprender a ler" ou "como gostar de escrever" ou ainda "10 razões para uma boa escrita", mas foi observando-a. Na verdade ela ensinou-me a querer ter o mesmo brilho nos olhos quando fazia o resumo de uma obra. Ela demonstrava para nós, os alunos, o quanto havia se envolvido com a leitura. Ela viajava. E um dia decidi que era isso que queria como uma leitora: viajar!
O processo da leitura foi quase por osmose. Uma vez impregnada nesse mundo, não havia como voltar. Era mais que um hábito: uma necessidade. Já a escrita, custou-me um pouco mais. Mas aos poucos a caneta e o lápis também tornaram-se elementos indispensáveis em minhas mochilas, bolsas, sacolas.
Tenho uma profunda relação com o lápis. A passagem do caderno para uma tela ainda tem sido dolorosa. Gosto daquele barulho "schictf...schictf...schictf" do contato do grafite com a folha de papel. Já este "bloc...bloc...bloc" das teclas não me seduziram totalmente. Sou uma escritora à moda antiga!
Mas aprendi que a arte de escrever, o gostar de criar histórias, resenhar, poetar, vem da relação com a leitura! Quanto mais leio, as linhas, as entrelinhas, minha visão de mundo expande e faz-me compreender as relações que há entre uma coisa e outra.
Muitas vezes temos que escrever sobre algo que não gostamos ou não compreendemos, mas escrever sobre o que nos dá prazer é um bom exercício para enfrentar quando nos solicitarem algo não tão prazeroso assim.
Quando a professora pedia à turma uma resenha, os "ais" eram unânimes. Todos de lamento. Pensávamos primeiro nas horas que tínhamos que gastar com a leitura de um livro, e sempre era acima de 200 páginas, e, depois colocar no papel as nossas impressões e um breve resumo sobre a história.
Um dia nossa professora fez diferente: trouxe-nos um filme: "Tomates verdes Fritos"! Lindo, sensacional! Todos assistimos com os olhos grudados na tela da TV. Não havia quem não se emocionasse. Até os meninos da sala choraram com as cenas dramáticas daquela história tão bem feita. Ao final, a professora nos fez comentar sobre o filme. Escolheu 4 alunos que fossem os secretários, para anotarem as opiniões dadas por todos nós. Cada um de nós, demos nossas visões de mundo sobre as quatro mulheres daquela magnífica história. Falamos principalmente sobre a amizade que desenvolveram uma com a outra, as dificuldades que tiveram que enfrentar juntas, as aventuras, os flashbacks, os relacionamentos desenvolvidos e a transformação de cada personagem no decorrer do filme. Depois, nossa professora, falou-nos sobre a autora do livro, trazendo para sala de aula o livro que inspirou o produtor a fazer o filme que havíamos assistido. Quando ela passou de carteira em carteira para que pudéssemos tocar no livro, foi algo mágico para mim. Creio que para alguns dos meus colegas, também o foi. Passamos a pesquisar sobre a autora, as obras, e em especial sobre Tomates verdes Fritos. Tínhamos material suficiente para construir uma boa resenha. Poderíamos falar sobre o filme, sobre o livro, sobre o produtor cinematográfico, sobre a autora, sobre as atuações, que a crítica atual dizia serem fabulosas. Nossa professora trouxe vários comentários de jornais, revistas, livros, fotos sobre o filme.
Nossa empolgação era grande! Colocá-la para o papel não foi difícil. Além de todo o material disponível, tínhamos as anotações das nossas discussões em sala de aula, as opiniões diferenciadas de cada aluno, as interpretações, as colocações. Não seria um simples resumo. E muito menos deveríamos desvendar o final surpreendente para o leitor da nossa resenha. A proposta da nossa professora era instigar em outros professores e colegas de outras turmas, o desejo de assistir ao filme e quem sabe, "por que não?" a lerem o próprio livro. Desafio lançado, mãos à obra.
Conseguimos vencer o desafio. Muitas pessoas assistiram ao filme. Fizemos além da resenha escrita. Rendeu-nos uma peça para a matéria de artes. Vários artigos sobre o valor de uma amizade, amor incondicional, preconceitos, relacionados ao filme foram colocados no mural da nossa escola. E não é que a nossa professora fez a receita dos tomates verdes fritos? Foi inesquecível. Parecíamos ter Ruth, Idgie, Ninny e Evelyn fora das telas direto para uma sala de aula na cidade de Curitiba.
E assim, entre outras coisas e motivações, nasceu em mim o desejo de escrever! Espero que meus olhos brilhem como os da minha professora e motivem os alunos, os leitores e viajarem pelo mundo fascinante da leitura e da escrita.

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